«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 7 de maio de 2024

AGAMIA, que bicho é este?

 A nova forma de relacionamento que vem crescendo entre os jovens

 Sandra Capomaccio

Jornalista 

Homens e mulheres agâmicos não querem pensar em ter parceiros fixos e muito menos filhos

Você já ouviu falar em agamia? Talvez não conheça por esse nome, mas com certeza já ouviu jovens dizerem que não querem casar ou ter filhos. Passa bem longe da cabeça deles a ideia de compromisso tradicional e tudo o que vem incluído nesse pacote. A nova geração vem passando por uma grande transformação no comportamento nas últimas décadas, com novos tipos de vínculo social. 

Uma pesquisa feita pelo IBGE, referente a 2023, mostra que o número de pessoas solteiras no Brasil era de 81 milhões, em contrapartida às casadas, que somam 63 milhões. Esse novo comportamento é chamado de agamia. Essa palavra vem do grego: “a” (não ou sem) e “gamos” (união íntima ou casamento) e tem como base a falta de interesse de um indivíduo em firmar um relacionamento romântico com outra pessoa, o que passa também pela intenção de os casais não desejarem filhos. 

A professora Heloisa Buarque de Almeida, do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e pesquisadora do Numas (Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença), explica que as novas gerações buscam outras formas de relacionamentos, sem compromisso legal. O fato é que esse comportamento não é exclusivo do Brasil, outros países da América Latina também passam por essa mudança, assim como Estados Unidos e Japão. 

Profa. Heloisa Buarque de Almeida

Outro ponto observado pela antropóloga da USP é o desejo de não querer filhos. Esses jovens estão preocupados com a preservação do planeta, aquecimento global, sustentabilidade, entre outras questões de vanguarda. Parte dessas mudanças também está relacionada ao meio digital, através das redes sociais, o que retarda o início da vida sexual desses jovens. As novas famílias estão tendo uma nova formação, com:

* dois pais [homossexuais],

* duas mães [lésbicas],

* casais vivendo em casas separadas [ingl.: singles], são inúmeras as alternativas de relacionamento.

Em suma, houve uma mudança na leitura do que é o amor, a família e o mundo. 

Fonte: Jornal da USP – Atualidades – Quinta-feira, 2 de maio de 2024 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/05/2024).

O Essencial Chomsky

 Livro recém-lançado é preâmbulo à revolução linguística e ao ideário político do pensador

 Mario Sergio Conti

Jornalista, apresentador de TV, autor de “Notícias do Planalto” 

Ilustração de Bruna Barros / Folhapress

O livro aperta o nó que ata linguagem, liberdade e luta

Num levantamento dos dez autores mais citados no ambiente acadêmico, o escritor norte-americano Noam Chomsky é o único vivo. Aparece em oitavo lugar, logo depois de Freud e antes de Hegel. 

Além de escrever, Chomsky dá entrevistas e palestras com cadência semanal. Faz isso há décadas e está com 95 anos, o que lhe confere uma auréola dupla, a de sábio venerável e astro pop, ainda que mais no exterior do que em casa. 

É professor emérito do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT, e dá aulas na Universidade do Arizona. É menos famoso nos Estados Unidos porque, sendo um crítico radical do status quo, aparece pouco na grande mídia. 

Quando aparece, faz barulho. Escreveu com dois colegas no New York Times sobre o ChatGTP e outros programas de inteligência artificial. O artigo afirma que, “dada a amoralidade, a falsa ciência e a incompetência linguística desses sistemas, só podemos rir ou chorar da sua popularidade”. 

No governo Trump, disse à revista New Yorker que ele era “o pior criminoso da história mundial”. Como assim, pior que Hitler e Stálin? 

Isso mesmo, pois Hitlernão dedicava seus esforços, de forma perfeitamente consciente, a destruir a perspectiva da vida humana na Terra”. E Stálinqueria manter o poder e o controle. Matar foi um meio para atingir esse fim”. 

Quanto a Trump, lançou um repto ao entrevistador: “Que figura importante na história da humanidade dedicou uma política à maximização da utilização de combustíveis fósseis e à redução de regulamentos que mitigam o desastre? Diga uma.” 

O jornalista, Isaac Chotiner, bem que tentou: “Bolsonaro, talvez”. Chomsky o rebateu dizendo que o brasileiro é um “clone” do americano e que o imita perigosamente, “mas não foi tão longe quanto Trump”. 

Escreveu um número inconcebível de livros: 150. A maioria é de linguística ou política, mas há alguns sobre filosofia, moral, história, ciência e imprensa. Nenhum deles é central à sua obra como, para Darwin e Freud, “A Origem das Espécies” e “A Interpretação dos Sonhos”.

Livro lançado em fevereiro de 2024, no Brasil, pelo selo CRÍTICA

Por qual começar? Uma boa escolha é o recém-lançado “O Essencial Chomsky”. Publicado pela editora Crítica, o livro de 654 páginas tem 25 prefácios e ensaios. Serve de preâmbulo à revolução linguística e ao ideário político de Chomsky. É inteligência em estado puro.

O livro começa com a resenha que é considerada a mais influente do século 20, a de “Comportamento Verbal”, de B.F. Skinner. Ela expõe com elegância e clareza o cientificismo de Skinner, que mascara com analogias sua falta de substância. O behaviorismo nunca mais foi o mesmo.

Outro texto que marcou época é “A Responsabilidade dos Intelectuais”, escrito no pico da invasão do Vietnã. É a partir dela que o artigo recenseia o amparo de intelectuais – cantados em prosa e verso como independentes – ao furibundo belicismo de democratas e republicanos.

Aos altos princípios dos especialistas – propagação da democracia, combate à opressão, defesa da paz – ele contrapõe o massacre sistemático de civis, perpetrado para enriquecer a elite. Os intelectuais eram, são, a casta que edulcora com ideias o interesse material da classe dominante.

A linguagem é o núcleo da sua obra. Assim como se alimenta, a espécie humana chega à linguagem. Não é preciso coagir as crianças a aprendê-la. Elas têm uma gramática inata que, com uns poucos estímulos, as leva a pensar, criar e se comunicar.

É assim, prescindindo da coação da força, que Chomsky aperta o nó que ata linguagem, liberdade e luta. Chomsky dá como exemplo a escravidão, que no século 19 “era considerada legítima, até estimável”. Foram anos e anos de lutas, fundamentadas na gramática dos argumentos e da emoção, até que ela terminasse.

As mudanças podem ser bem rápidas. Há meses, quem denunciava a matança de Israel em Gaza era xingado de antissemita pelos intelectuais sicofantas. Hoje não mais. Cerca de 80 universidades americanas estão conflagradas pelo movimento antiguerra, inclusive o MIT de Chomsky.

Ele teve uma experiência semelhante em 1967, ao participar de um protesto contra a invasão do Vietnã. Em “Sobre a Resistência”, reproduzido em “O Essencial Chomsky”, escreveu um artigo para os que compartilhavam sua “aversão instintiva ao ativismo”.

Parou de pagar impostos para não financiar a carnificina, foi a mais manifestações, acabou preso – e os vietnamitas venceram a maior máquina de matar de todos os tempos. Tiveram a solidariedade de Chomsky em pensamento, palavras e atos.

 

Fonte: Folha de S. Paulo – Ilustrada/colunas e blogs – Sábado, 4 de maio de 2024 – Pág. C7 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/05/2024).

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Não há surpresa! Mas inação, incompetência

 Sobre a emergência climática e ambiental no RS

 Rualdo Menegat

Professor Titular do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia do Instituto de Geociências da UFRGS. Geólogo. Mestre em Geociências (UFRGS). Doutor em Ciências na área de Ecologia de Paisagem (UFRGS) 

Motivos que nos levaram a esta catástrofe

RUALDO MENEGAT
Devemos reconhecer, em primeiro lugar, que não só há um apagão da
infraestrutura do Estado do Rio Grande do Sul
(RS) — que Leite e Melo privatizaram e que agora gerenciam de forma incompetente, estruturas como CEEE-Equatorial, Corsan, entre outras. Sartori e Leite desmontaram também a inteligência estratégica do Estado: Metroplan, FZB, FEE, SEMA e CIENTEC. 

Além disso e muito importante: há um apagão da natureza para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, posto que a drenagem natural e os ciclos hídricos foram destroçados pelas políticas de uso intensivo do solo:

* Flexibilizaram leis para aumentar áreas de plantio de soja,

* desmontaram planos diretores para ampliar a especulação imobiliária em zona ribeirinhas,

* para implantar minas de carvão e para favorecer a especulação imobiliária. 

Sem inteligência social e com a infraestrutura natural destroçada, temos pela frente um longo caminho para adquirirmos condições de enfrentar a emergência climática e ambiental que estamos atravessando. Temos que ter em mente que isso é apenas um começo. Temos que agir estrategicamente se quisermos encorajar a sociedade a enfrentar os tempos que estão aí e os que advirão. 

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é uma instituição fundamental para isso. É a inteligência estratégica que sobrou em um Estado que está sendo desmontado peça por peça. Sem inteligência social, a sociedade não só fica muito mais vulnerável frente aos impactos adversos dos tempos severos, mas também fica refém da ação de forças externas, sobre as quais não tem controle, como o Exército e empresas privadas. 

Tudo conduz para a ideia que nada podemos fazer enquanto sociedade, cada vez mais submetida à inclemência da natureza e ao horror de políticas autocráticas e ignorantes. A Universidade é a esperança possível para desenvolver uma inteligência social que encoraje a sociedade a enfrentar a emergência climática-ambiental do século XXI. 

Fonte: Agir Azul Notícias – Sexta-feira, 03 de maio de 2024 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/05/2024). 

“Tragédia no RS é responsabilidade também de senadores e deputados que desmontam legislação ambiental”

 Letícia Mori

Da BBC News Brasil em São Paulo

MARCIO ASTRINI: secretário-executivo do Observatório do Clima


As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul, as mais intensas registradas em território gaúcho em décadas, já deixaram dezenas de mortos, causaram estragos em 300 municípios, romperam uma barragem e desalojaram mais de 32 mil pessoas. Há ainda mais de 60 pessoas desaparecidas enquanto o mau tempo já provoca danos em outros Estados do Sul. 

Os governos federal e estadual criaram uma força-tarefa e tentam evitar mais mortes promovendo evacuações e retirando pessoas de áreas de risco. 

Mas a responsabilidade não é apenas dos governos estaduais e federal, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), mas também do Congresso — pois as tragédias são resultado da falta de adaptação e de combate às mudanças climáticas, duas áreas onde os Executivos precisam fazer mais e onde o Legislativo têm promovido ativamente retrocessos, na opinião dele. 

“A maioria conservadora tem aprovado diversos projetos considerados nocivos para o meio ambiente. Nunca tivemos um Congresso tão dedicado a desmontar”, afirma o especialista em políticas públicas à frente do Observatório do Clima, rede de entidades que monitora a questão climática no Brasil. 

Além disso, segundo Astrini, ações que se limitam às respostas de emergência em situações de crise não são suficientes. Eventos extremos como esse — cada vez mais comuns por causa das mudanças climáticas — não podem mais ser tratados como “imprevistos”. 

Embora nem sempre seja possível prever com precisão a intensidade de um evento extremo, já sabemos que eles se tornarão mais frequentes — e quais as medidas que precisam ser tomadas para nos adaptarmos a eles, afirma o especialista. 

Modelos climáticos preveem há décadas um aumento de chuvas extremas no sul da América do Sul, incluindo toda a bacia do Prata (formada pelos rios Paraná e Uruguai), lembra Astrini. 

“O maior problema que a gente enfrenta neste momento não é a previsão, é a aceitação”, afirma Astrini. “A gente precisa aceitar que, infelizmente, esse é o novo normal. Mas não basta aceitar pacificamente, é preciso aceitar e tomar atitudes.” 

“Todo ano o governo do Rio Grande do Sul fica extremamente espantado que as chuvas são intensas. O governo do Rio de Janeiro fica super surpreso quando acontece em Petrópolis. É uma surpresa em São Sebastião (SP), no norte de Minas Gerais, em Recife (PE), no sul da Bahia. Só que acontece que já faz nove anos consecutivos que as médias de temperatura do planeta são as mais quentes já registradas. Não tem mais surpresa. A gente precisa se preparar para isso”, afirma Astrini. 

Barco encalhado devido à seca no Rio Amazonas

Mitigação, adaptação e redução de danos 

Astrini explica que existem três tipos de resposta possíveis diante da crise climática: a mitigação das causas, a adaptação em preparação para as consequências e a redução de danos diante das tragédias. 

1º)Mitigação é quando você ataca o problema: é quando você interrompe o desmatamento, quando você tira uma termoelétrica de operação, quando substitui uma fonte poluente por uma fonte renovável”, afirma o especialista. 

2º) “A adaptação é quando o problema vai acontecer e você começa a adaptar principalmente as populações mais vulneráveis ao problema. Por exemplo, quando tira as populações da área de risco, quando dá mais assistência para um pequeno agricultor lidar com uma seca.” 

As ações também são necessárias contra problemas que não necessariamente são causados pelo aquecimento global, embora agravados por ele, explica Astrini.

Adaptação é também quando você reforça a rede de saúde, porque vão aumentar os casos de dengue, porque o ciclo de reprodução do mosquito vai ficar mais longo por causa de chuvas desproporcionais e do calor prolongado.” 

3º)lidar com as perdas e reduzir os danos é promover as respostas emergenciais às tragédias. 

“Perdas e danos é o que se faz normalmente: desbarrancou, você vai procurar sobreviventes, vai construir casas”, diz Astrini.

O problema, na visão do especialista, é que as ações tomadas por autoridades federais, estaduais e municipais tendem a se concentrar apenas nesse terceiro estágio de resposta.

O pessoal só age quando já está no nível da desgraça”, diz Astrini. 

“O dinheiro investido na primeira camada [mitigação] vale muito mais, porque ele evita a adaptação e evita o desastre.” 

Ações que estão sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto pelo governo estadual e pelos municípios no caso das chuvas no Rio Grande do Sul — alertas da Defesa Civil, evacuação de pessoas de áreas de emergência, restabelecimento de serviços etc. — se encaixam no terceiro tipo. 

Após a região ser atingida por um ciclone em setembro do ano passado, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional repassou R$ 82 milhões para o governo do Estado e outros R$ 243 milhões aos municípios gaúchos para lidar com a crise. Segundo reportagem da CNN Brasil, a maior parte do dinheiro foi usada em ações emergenciais, como compra de mantimentos e desobstrução de estradas. 

Governador do Rio Grande do Sul - EDUARDO LEITE (PSDB)

Os governos precisam planejar e executar a mitigação

“A gente pode ter a Defesa Civil 30 vezes maior no Rio Grande do Sul ou em qualquer outro Estado. Vai continuar morrendo gente, porque a Defesa Civil vai conseguir salvar a vida de alguém próximo, mas não de todos. Quem salva mais vidas é o planejamento, e no caso dos municípios, o planejamento urbano”, afirma o líder do Observatório do Clima. 

Embora o aquecimento global seja um problema em escala mundial, ações de mitigação não são responsabilidade apenas de entidades internacionais e governos nacionais. Elas podem — e precisam — ser alvo também dos governos locais, diz Astrini. 

A mitigação é uma agenda de responsabilidade, não de ganho político. Vou pegar um exemplo aqui no Cerrado, que bateu o recorde de desmatamento nesse último período: mais de 60% de aumento de agosto do ano passado para cá. E quem dá as autorizações de desmatamento são os governos estaduais”, diz ele. 

“E há vários outros exemplos, como legislações de licenciamento ambiental mais frouxas nos Estados, a responsabilidade com o saneamento básico, com a transição energética.” 

O governo do Rio Grande do Sul não respondeu ao pedido de informações sobre ações de mitigação e adaptação da BBC News Brasil. O governador Eduardo Leite (PSDB) tem dado atualizações diárias sobre as medidas emergenciais tomadas no Estado, que incluem alertas e remoção das pessoas das áreas de risco. 

MEMBROS DA BANCADA RURALISTA da Câmara dos Deputados Federais. É bom saber que um quarto dessa bancada é composta por políticos do PL

“Deputados e senadores também são responsáveis”

Astrini diz ainda que é preciso lembrar da responsabilidade do Congresso em relação à situação climática que leva às tragédias como a sofrida pelo Rio Grande do Sul, neste momento. 

Deputados trabalham dia e noite para destruir a legislação ambiental do Brasil com afinco. Neste momento, estão querendo acabar com a Lei de Licenciamento Ambiental, querem acabar com a reserva legal na Amazônia, querem acabar com as reservas indígenas”, diz Astrini.

Ele se refere a um projeto de lei (PL) que flexibiliza o licenciamento ambiental, permitindo que Estados e Municípios determinem os projetos que precisam ou não fazer uma análise de impacto, entre outras medidas. 

Os defensores do PL argumentam que ele “diminuirá a burocracia” e por isso facilitaria o desenvolvimento econômico. 

Mas Astrini diz que o projeto não só não resolve o problema da burocracia como pode comprometer metas de desenvolvimento sustentável. 

“A gente nunca teve um Congresso tão agressivo nesse esforço para desmontar a legislação ambiental no Brasil”, afirma.

Deputados e senadores contrários a pautas importantes para ambientalistas argumentam que a legislação ambiental atrapalha o desenvolvimento econômico e, em alguns casos, negam dados científicos sobre o aquecimento global ou sobre desmatamento no Brasil. 

“Tem dois momentos em que o Congresso ajuda o Brasil na área ambiental: no recesso do meio do ano e no recesso do final”, diz Astrini. 

Para Astrini, o governo federal vem falhando na disputa com os deputados e senadores pelas pautas ambientais, embora tenha um bom projeto para a área. 

Ele cita, por exemplo, o fato de a bancada governista ter sido liberada para votar em qualquer sentido (em vez de receber a orientação para votar contra) o marco temporal para as terras indígenas. 

MINISTRA MARINA SILVA do Meio Ambiente

“A gente nunca teve um Ministério do Meio Ambiente com tanto apoio no governo. É a primeira vez que um presidente fala em desmatamento zero e tolerância zero para desmatadores. Você tem um ministro da Economia que faz conversas sobre o meio ambiente, um Ministério dos Povos Indígenas. Mas mesmo assim as coisas não estão andando como deveriam”, afirma. 

Além na tragédia no Sul, há outras notícias negativas na área. O Norte registra número recorde de queimadas de janeiro a maio deste enquanto a greve de servidores dos dois principais órgãos de fiscalização ambiental do país —Ibama e ICMBio— já dura mais de 100 dias. 

Para o especialista, não se trata apenas de uma questão de orçamento mais robusto para ministérios da área —que também é importante — mas da capacidade de integrar essa visão em todos os setores. 

“Quem causa o problema de emissões do Brasil? São os atores no setor do Ministério da Agricultura. E no Ministério das Minas e Energia. São esses ministérios que têm que ter programas e investimentos para diminuir as emissões de seus setores”, afirma Astrini. “O Ministério do Ambiente pode multar uma área que já foi desmatada, mas para as ações de mitigação você precisa da ação de todos os agentes.”

[...]

“São os homens privilegiados, com espaço, que falam com seus eleitores e formam opinião pública. Eles não cansam de repetir que essa coisa de meio ambiente, de regra ambiental, é uma besteira”, diz Astrini. “Mas aí as consequências chegam e a responsabilidade é de quem?” 

Fonte: BBC News Brasil – Sábado, 04 de maio de 2024 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/05/2024).

sexta-feira, 3 de maio de 2024

6º Domingo da Páscoa – Ano B – Homilia

 Evangelho: João 15,9-17 

Frei Alberto Maggi *

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Ser amigo de Cristo é amar-nos uns aos outros

O sinal distintivo do cristão é a alegria e Jesus também nos diz o porquê; leiamos o capítulo 15 de João, onde Jesus continua o ensino sobre a videira e os ramos e fazemos isso a partir do versículo 9. 

João 15,9:** «Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor.»

Jesus afirma “Como o Pai me amou”, Jesus foi amado pelo Pai através do dom do Espírito, da própria capacidade de amor do Senhor, “assim também eu vos amei”. Como Jesus amou os seus? No capítulo 13, apresentando a cena do lava-pés, o evangelista a iniciou assim: “Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. E como ele os amava? Lavando os pés de seus discípulos; porque o amor não é um sentimento, mas um serviço, não se transmite através de uma doutrina, mas através de gestos que comunicam a vida. E Jesus pede “Permanecei no meu amor”, o que isso significa? O serviço é a única garantia do amor, de estar em comunhão com o Pai. 

João 15,10-11: «Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena.»

Jesus, aqui, fala de mandamentos, no plural, mas no lava-pés Jesus falou de um mandamento que ele definiu como “novo” (cf. Jo 13,34), não no sentido de que foi acrescentado aos outros, aqueles de Moisés, aqueles que já existiam, mas devido à uma qualidade pela qual é completamente novo. Portanto, não é um novo mandamento, mas um mandamento. E qual era esse mandamento? Do amor mútuo como Jesus tinha amado os seus. E Jesus amou os seus através do serviço de lavar os pés. Então, o que significa “Se guardardes os meus mandamentos”? Só existe um mandamento, o do amor mútuo, a resposta prática e concreta a este único mandamento, que para Jesus tem o mesmo valor de todos os mandamentos.

O amor que se torna serviço é a única garantia da comunhão de Jesus com o Pai e de nós com o Pai e Jesus. “Eu vos disse isso” diz Jesus “para que a minha alegria esteja em vós”, Jesus insere este ensinamento sobre a alegria entre os dois ensinamentos sobre o amor. A alegria de Jesus, que é a alegria de Deus, deve estar em nós e não de qualquer modo, mas a “vossa alegria seja plena”. Portanto o distintivo daqueles que creem é a alegria, uma alegria que não depende dos acontecimentos da vida: hoje tudo está indo bem para mim, então, eu estou feliz; porém, amanhã as coisas estão ruins, então, eu não estou feliz. É uma alegria que não depende só de sentir-se amado, mas em sentir-se fruto de um projeto de amor por parte do Pai. Inclusive, é o próprio Pai quem cuida e protege esse projeto de amor! 

João 15,12: «Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.»

Jesus insiste em recordar o seu “novo” mandamento. Ele insiste em falar no passado, não é uma promessa de um amor para o futuro, “como eu vos amarei”, mas “como eu vos amei”, ou seja, lavando os vossos pés. Insistimos, assim como Jesus, que o serviço é a única garantia de comunhão com o Senhor. 

João 15,13-15: «Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.»

As palavras de Jesus sobre o amor, não é palavreado e boas intenções, mas são fatos. No momento da prisão Jesus poderia ter se salvado, mas em vez disso deu a vida pelos seus, disse aos guardas: “Se é a mim que procurais, deixai estes irem” (Jo 18,8b). Em seguida, Jesus diz algo surpreendente para a cultura da época; naquela época a relação entre o mestre e os discípulos era uma relação entre um senhor e seus servos. No entanto, Jesus afirma: “Vós sois meus amigos”. A relação com Jesus não é de servos! Jesus não precisa de servos, porque é ele quem se coloca ao serviço dos seres humanos e da humanidade. Jesus precisa de pessoas que com ele e como ele colaborem neste serviço. Naturalmente esta amizade está condicionada ao “se fizerdes o que eu vos mando”, ou seja, se colocardes em prática este amor mútuo

João 15,16-17: «Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.»

São Paulo, na carta aos Efésios (1,4), chega ao ponto de dizer que ainda antes da criação do mundo o Senhor nos escolheu, porque precisa que cada um de nós para manifestar-se de uma forma nova, original e criativa. Jesus afirma que “fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes”, aqui está um verbo de movimento: ir. A comunidade cristã não é uma comunidade imóvel, estática, à espera da chegada das pessoas, mas é uma comunidade dinâmica, em movimento, indo em direção a quem? Ela vai ao encontro dos rejeitados, dos excluídos, dos marginalizados da sociedade, para dar frutos e comunicar-lhes o seu amor. Prossegue Jesus: “O que então pedirdes ao Pai em meu nome”, “em meu nome” não é uma fórmula, como p. ex.: “por meio de Cristo nosso Senhor”. A expressão “em nome” significa “à semelhança, ao vos identificardes ele vos conceda”. Pois, o Pai, vendo-nos semelhantes ao Filho, tem interesse em nos conceder tudo o que necessitamos para darmos cada vez mais frutos. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Se uma pessoa ama apenas a uma outra e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, o seu amor não é amor, mas uma relação simbiótica ou um egoísmo expandido.»

(Erich Fromm: 1900-1980 ― psicanalista, filósofo e sociólogo alemão)

A boa notícia que o Evangelho de hoje nos dá é fabulosa! Afinal, o Filho de Deus, o Messias, o Salvador do mundo nos revela que nós somos seus amigos! Sim, isso mesmo! Deus, pela voz de Jesus, afirma que é nosso amigo! E essa não é uma notícia qualquer, não é pouca coisa! Mas há uma outra boa notícia além desta, ou seja, “a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11). Se vivermos o mandamento do amor mútuo, Jesus nos assegura a sua alegria, que é a mesma de seu Pai. Portanto, nos é prometida uma alegria que ninguém, nesta terra, pode experimentar sem a experiência com Jesus. 

Certamente, já encontramos muitas pessoas que, apesar de sorrirem, apesar de terem tantos bens na vida, apesar de terem conquistado diplomas, posição social e um padrão razoável de vida, mesmo assim, não são alegres de verdade! Muitos que convivem conosco e, talvez, nós mesmos, não sabemos o que é o verdadeiro amor e a verdadeira amizade. Essas pessoas, muitas vezes, acabam preenchendo esse vazio com deuses falsos que ocupam o lugar do Pai: poder, dinheiro, sexo, aparência física, bens de todos os tipos etc. É, assim, que vivem muitos nos dias atuais. 

A “receita” para a verdadeira felicidade, para a autêntica alegria é oferecida por Jesus, quando afirma: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). A proposta de Jesus é clara: se não há amor, não há vida! Não há comunhão, contato com ele. Não se faz a experiência com seu Pai. O que resta, sem amor, é o vazio, é a depressão, é a tristeza! Isso tudo parece ter se tornado uma epidemia no mundo de hoje! 

A alegria de Jesus, que ele deseja que também seja a nossa, é uma alegria fruto de:

* uma confiança pura e incondicional no Pai;

* saber agradecer a vida que se tem;

* descobrir que a nossa inteira existência é graça;

* doar-se aos outros a fim de que possam ser felizes tanto ou mais do que nós! 

Como sintetiza, muito bem, José Antonio Pagola, biblista espanhol:

“Só é feliz quem faz um mundo mais feliz. Só conhece a alegria quem sabe presenteá-la. Só vive, quem sabe viver”. 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! Sua mão e o seu braço forte e santo alcançaram-lhe a vitória. O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça; recordou o seu amor sempre fiel pela casa de Israel. Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai!»

(Fonte: Salmo responsorial da missa deste domingo – Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – VI Domenica di Pasqua – 9 maggio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 23/04/2024).

Pior que é verdade!

 A cultura do ódio está na moda!

 Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de “A Invenção de uma Bela Velhice” 

Mirian Goldenberg com a mão enfaixada

Gente estúpida; gente hipócrita, assim cantou Gilberto Gil

Domingo, 17 de março, 16 horas: estava caminhando no calçadão de Ipanema quando um morador de rua, carregando três sacos de lixo, correu na minha direção com uma barra de ferro gritando: “Passa a bolsa, passa o dinheiro”. Assustada, corri e tropecei no meio-fio. Caí, esfolei os joelhos e machuquei a mão esquerda. Um engraçadinho brincou: “Por que você não perguntou se ele aceitava Pix?”. 

No dia seguinte, às 7 horas, estava na porta de uma clínica ortopédica perto da minha casa. Quando a clínica abriu, às 8 horas, fui a primeira a entrar. O ortopedista chegou atrasado e só me atendeu às 8h47. Nesse horário, 17 pessoas já estavam na pequena sala de espera. 

Eu e meu marido éramos os únicos de máscara, em meio a um festival de tosses e espirros. Uma mulher perguntou: “Por que vocês estão usando máscara?”. Respondi que a minha sogra, de 89 anos, teve uma gripe violenta, estava anêmica, com baixa imunidade e foi internada no hospital. A mulher, em tom de deboche, disse: “Para que usar máscara? Que bobagem, a pandemia já acabou há muito tempo. É só uma gripezinha”. 

Pessoas que se recusam a usar máscaras, quando necessário, possuem transtornos antissociais

A filha dela, que estava brincando com o celular, esbarrou na simpática senhora, de 94 anos, com quem eu estava conversando. Imediatamente, a menina pediu desculpas. A mãe gritou com ela: “Por que você está pedindo desculpas? Você não fez nada de errado. Deixa de ser idiota!”. 

Meu marido ficou chocado: “Que mulher estúpida. Ela deveria ter orgulho da filha que se desculpou educadamente. Uma mãe que grita com a criança, como se pedir desculpas para uma senhora de 94 anos fosse um pecado mortal. Está ensinando a filha a ser desrespeitosa e grosseira com as pessoas de mais idade. Que absurdo! O mundo está de cabeça para baixo!”.

Entrei na sala do ortopedista. Contei que caí e que os três dedos do meio da minha mão esquerda estavam doendo muito. “Você tem que fazer uma tomografia. Vou imobilizar sua mão e receitar analgésicos e anti-inflamatórios”. A consulta durou exatamente três minutos. 

Fiz a tomografia: não quebrou nada, mas o inchaço dos três dedos continuou e a dor também. Quinze dias com a mão enfaixada e, depois, mais sete dias apenas com o dedo do meio imobilizado. Depois de retirar a tala do dedo médio, o ortopedista, em uma consulta de dois minutos, orientou que eu fizesse dez sessões de fisioterapia. “Precisa?” “Precisa, se não fizer a recuperação vai demorar muito mais”. 

Sándor Ferenczi (1873-1933) foi um psicanalista húngaro, um dos mais íntimos colaboradores de Freud. Tornou-se famoso pelas experiências psicanalíticas

Ele prescreveu: “laser e massagem suave. Sinovite: terceiro dedo da mão esquerda”. Descobri que sinovite é uma inflamação na membrana sinovial, a camada fina de tecido que reveste as articulações, que pode ocorrer como resultado de traumas, como quedas e acidentes. 

Dia 10 de abril foi a minha primeira sessão de fisioterapia na clínica indicada. O fisioterapeuta que me atendeu fez laser e uma massagem suave na mão esquerda. A dor melhorou bastante e já consegui mexer os dedos no mesmo dia. 

Voltei no dia seguinte: outro fisioterapeuta me atendeu. Ele fez uma massagem tão bruta que gritei de dor. Falei que o ortopedista tinha recomendado massagem suave. O fisioterapeuta respondeu: “Médico não entende nada disso. Eu sou fisioterapeuta, sei que se não forçar os dedos você vai demorar muito mais a recuperar os movimentos”. 

Ele continuou mais alguns minutos forçando os dedos, apesar da minha dor. Os três dedos incharam muito, ficaram roxos e não consegui mais mexer a mão esquerda. Nunca mais voltei à clínica e os três dedos continuam, até hoje, inchados e roxos. 

Meu marido ficou indignado com a brutalidade do fisioterapeuta. 

“Essas pessoas são vampiras, sugadoras da saúde do nosso corpo e da nossa alma. Quanto mais ódio e violência elas destilam, mais se sentem poderosas e superiores. Peguei ranço de gente virulenta, caga-regras, que só quer destruir, desvalorizar e diminuir os demais; gente que grita, xinga, ofende, humilha, desqualifica a nossa dor. Você acaba se sentindo uma merda, uma bosta, impotente, à mercê de tanta gente estúpida, hipócrita, agressiva, arrogante e autoritária.”

E, como sempre, ele me deu uma boa ideia: “Por que você não escreve uma coluna para a Folha contando alguns casos do nosso cotidiano no Rio de Janeiro? O título poderia ser: ‘A cultura do ódio está na moda! Gente estúpida; gente hipócrita, assim cantou Gilberto Gil’”. 

Fonte: Folha de S. Paulo – colunas e blogs – Quinta-feira, 02 de maio de 2024 – Pág. B8 – Internet: clique aqui (Acesso em: 03/05/2024).

O futuro da educação

 Escolas do futuro são escolas “low tech”

 José Ruy Lozano

Sociólogo e educador, é autor de livros didáticos e membro da Comunidade Reinventando a Educação (Core) 

Materiais físicos impulsionam habilidades motoras, criatividade e imaginação

Chamou a atenção da imprensa, no ano passado, o fato de que o sistema público de educação da Suécia decidiu voltar a usar livros e cadernos físicos como material didático obrigatório no lugar de tablets e lap tops. As razões apresentadas pelos suecos são várias, mas passam pela aprendizagem da leitura e pela manutenção da capacidade de concentração dos estudantes. Em ambos os casos, os materiais físicos apresentam resultados muito melhores

Os escandinavos não estão sozinhos. Já forma uma longa fileira a lista de países desenvolvidos que vêm progressivamente abandonando equipamentos digitais e retornando ao papel e à caneta. As autoridades educacionais desses países baseiam-se em pesquisas científicas recorrentes, que apontam:

* não só a melhoria do rendimento acadêmico

* como também o desenvolvimento mais adequado de habilidades motoras e

* o impulso à criatividade e à imaginação, sempre melhor estimuladas pelo uso de materiais físicos nas escolas. 

Não há que se imaginar a escola contemporânea totalmente desconectada do mundo digital. Evidentemente, salas de aulas com computador e conexão à internet, que permitam a exibição de materiais visuais diversos, além de espaços com equipamentos digitais para pesquisa online mostram-se indispensáveis no mundo de hoje. A tecnologia digital, no entanto, não é fetiche ou panaceia. Ela não só não é capaz de solucioná-los, como por vezes termina por ampliá-los.

Este livro será publicado no Brasil, no dia 5 de agosto de 2024, pela Companhia das Letras

Jonathan Haidt, professor da Universidade de Nova York, publicou dados alarmantes em seu novo livro, “The Anxious Generation” (tradução: “A Geração Ansiosa”), que aborda a deterioração da saúde mental de crianças e adolescentes a partir de 2010:

* Quadros de depressão,

* ansiedade,

* automutilação e

* suicídio têm aumentando dramaticamente desde então.

Imagens do livro infantil: "Larga esse celular", texto de Bui Phuong Tam e ilustrações de Hoang Giang, Editora Caminho Suave, publicado em fevereiro de 2024

Não à toa, é justamente a partir de 2010 que se dá a generalização do uso das redes sociais, notadamente o Instagram, difundindo-se entre os mais jovens. 

Ao largo das pressões negativas do mundo virtual, que captura a atenção dos mais jovens, corrói sua capacidade de concentração e os transforma em objetos manipulados por algoritmos, educadores têm reiterado a necessidade da redescoberta das relações de proximidade e do mundo físico. Nas mais renomadas escolas do Vale do Silício, na Califórnia, onde estudam os filhos dos executivos das grandes corporações mundiais de tecnologia, há poucas telas de LED e muitas ferramentas. No lugar do computador, lápis e canetas, mas também martelos, chave de fenda, pincéis. A educação “mão na massa”, com objetos e materiais físicos, predomina em relação a dispositivos eletrônicos. 

Imagens do livro infantil: "Larga esse celular"

Diante da revolução representada pelo Big Data e pelas inteligências artificiais, devemos nos manter firmes como educadores que visam produzir conhecimento, não apenas reproduzir o que está armazenado nas bases de dados de governos e empresas.

Afinal, a educação não é apenas dar acesso a informações, mas principalmente fazer refletir e questionar a partir das informações que acessamos.

Fonte: Folha de S. Paulo – Tendências/Debate – Sexta-feira, 03 de maio de 2024 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (Acesso em: 03/05/2024).